terça-feira

Desperte a criança que existe em você

POR AGDA MATTOSO | BEM-ESTAR
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Brincar é coisa séria ou é brincadeira?
Em sua primeira coluna, a psicóloga Agda Mattoso fala da importância da brincadeira para o crescimento pessoal
Brincar é uma atividade humana, e de outros animais também, que por ser comum nem sempre pensamos sobre ela com a devida importância que o assunto merece. As brincadeiras podem passar despercebidas para quem não participa de uma, mas é recheada de significados para quem brinca.

Talvez saibamos da importância e do significado do brincar porque nos envolvemos em brincadeiras; porque temos memórias de quando brincávamos ou porque ainda gostamos de brincar. O brincar nos proporciona emoções prazerosas e de lazer além de sensações que nos causam curiosidade, que instigam e que permanecem na memória, por contribuírem no modo como enxergamos as situações da vida.
E brincar não é coisa só de criança, não. Mas será que adulto também brinca?
Que tal pensarmos sobre brincar, sobre a importância das brincadeiras e refletir a respeito o papel do brincar no cotidiano?
O cérebro humano funciona associado com o corpo. As sensações, percepções e emoções decorrentes da interação do corpo com os estímulos, vindos do mundo externo, influenciam o modo como vemos e interpretamos a vida, ou seja, estes três elementos dão o colorido ao nosso dia a dia.
Algumas pessoas têm experiências mais amargas e sofridas e daí o olhar, que lançam sobre as coisas, pode ser um olhar que vê a vida num tom mais cinzento, com pouca graça. Outras já experimentam situações geradoras de emoções que deixam como marcas tons coloridos, que servem como lentes que auxiliam na visão das cores e das luzes da própria vida, encantando-se de forma radiante e contagiante com aquilo que vêem.
E como o brincar contribui para estes modos de encarar a vida, sejam estes com cores intensas, pardas, brilhantes, foscas ou até mesmo no modo onde não haja a cor?
Para a criança o brincar é um meio de entrar em contato com a realidade, com as pessoas e de experimentar o mundo real e as relações humanas. Na brincadeira o contato com o real é pela reinvenção do cotidiano, numa tentativa de compreender as situações, os sentimentos e os comportamentos próprios e os dos outros.
A criança ao brincar reinventa a realidade, cria seu mundo particular e se descobre por meio do lúdico. Ao usar a imaginação e a criatividade passa a fantasiar sobre as inter- relações pessoais e pode ser capaz de se colocar no lugar do outro, o que facilita a apreensão das relações reais. A criança, brincando, tem oportunidade de experimentar uma gama diversificada de sensações, percepções e emoções.
É brincando que experimentamos as diferentes maneiras de se encarar a vida e colecionamos vivências de situações agradáveis, prazerosas, frustrantes ou angustiantes. É no brincar que aprendemos a lidar com as emoções e temos a possibilidade de alternar entre os estados de humor sem nos apegarmos a rótulos ou às expectativas que os outros possam depositar em nós que brincamos. Nesta situação o que interessa, para aquele que brinca, é a brincadeira em si e não o que as pessoas pensam ou fazem em relação às atitudes e comportamentos envolvidos no brincar.
Para o adulto brincar também é importante, mas de forma diferente do que é para a criança. Em nossa sociedade, nas fases adultas o brincar tem sua importância diminuída porque as brincadeiras, os jogos e o lúdico não têm uma relação direta com a produtividade do trabalho.
Mas este cenário está em transição. Em alguns segmentos do mercado econômico, como por exemplo, no de tecnologia e informática há empresas que necessitam de grandes contingentes de idéias criativas e estimulam seus recursos humanos a trabalharem em ambientes lúdicos nos quais possam brincar e jogar como uma maneira de promover o trabalho criativo.
Para os adultos o lúdico tem função de atividade recreativa relacionada ao prazer e à interação social descompromissada das hierarquias, existentes entre as pessoas, pois a relação, daqueles que brincam ou jogam, é regulada por regras próprias da brincadeira, ou do jogo, e não pelas funções que as pessoas exercem socialmente.
O brincar para o adulto estimula a criatividade, alivia as tensões cotidianas e contribui para o autodesenvolvimento. Ao possibilitar o desligamento parcial e a amenização das exigências laborais e sociais, a brincadeira permite o contato com aspectos do mundo real tanto quanto com o da fantasia. Neste contato somos capazes de conhecer as próprias potencialidades e limites ousando imaginar situações e condições que não sejam possíveis de se viver no cotidiano. Sem o uso da imaginação como conheceríamos nossos sonhos e desejos e como saberíamos se é possível realizá-los ou não?
Vamos relembrar a letra da música de Milton Nascimento: “Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão (…) E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir”.
Que tal aprendermos com a criança que vive em cada um de nós para que ela nos acompanhe nesta jornada de autoconhecimento, que pode ser divertida, criativa e recheada de possibilidades.
E você já brincou hoje?
Agda Mattoso é psicóloga especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia e psicoterapeuta breve pela Unicamp.
Desenvolve trabalhos de orientação vocacional, orientação profissional e atendimento clínico de adolescentes, adultos, idosos e de pessoas com deficiência.

Fonte:http://blog.indike.com.br/2012/01/desperte-a-crianca-que-existe-em-voce/

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