quarta-feira

Afetividade na aprendizagem segundo Wallon

A palavra emoção é derivada da palavra latina e significa ato de deslocar, pertubação e agitação. Nos livros de psicologia, em geral, ela é definida como “afetos e reações desordenadas que se manifestam em nós quando no nosso ambiente se espera alguma transformação radical e repentina à qual não nos podemos adaptar imediatamente”. Medo, cólera, alegria e tristeza são emoções.
A palavra afetividade está definida como um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (Dicionário Aurélio – 1994).
Falar que a escola deve proporcionar formação intelectual, afetiva e social às crianças é comum hoje em dia. No inicio do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamada Henri Wallon.
As emoções, para Wallon, têm papel importante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. Segundo Heloysa Dantas, estudiosa da obra de Wallon há 20 anos, a raiva, a alegria, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. “A emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social”.
Wallon considera a pessoa como um todo. Afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo planowallon na escola: humanizar a inteligência. Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.
Diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é sempre a de considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetivos, assim devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio.
O prazer para aprender é fundamental para o processo ensino-aprendizagem. As interações que ocorrem no contexto escolar também são marcadas pela afetividade em todas as suas dimensões. Segundo Alves (1993), o prazer disciplina: indisciplinados são os que não tem paixão por coisa alguma... A ação pedagógica deve estar voltada pra um procedimento denominado por Fernández (1990) como erotização do conhecimento, no sentido da “sedução” dos alunos para a busca e construção eficaz do referido conhecimento. O afeto é a energia necessária para que o “motor” cognitivo passe a operar, tornando suscetível não só a “ligação” deste motor, mas, também, influenciando na velocidade que ele pode imprimir. O afeto influencia a estrutura cognitiva, mas também interfere na velocidade com que se constrói o conhecimento, constituindo-se como um fator de grande importância na determinação da natureza das relações que se estabelecem entre o sujeito e o conhecimento.
As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Ela têm contribuído em demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasia, de símbolos e de dores. (Saltini)
A escola facilita o papel da educação nos tempos atuais, que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter, levando o aluno a ser crítico e construir seu caminho. (Chardelli, 2002).
A noção de trabalho, ocupada pela Psicologia, no contexto educacional, ganhou contorno bem mais amplo que seu conceito usual, desvinculando-se de sua conotação econômica e passando a ser fator intrínseco à vida infantil na definição de “ocupações ativas”, ou seja, o interesse do aluno e a preocupação em propiciar-lhe a construção do conhecimento, em colocá-lo em permanente estado de ação com o meio; enfim, o objetivo de aprimorar a capacidade cognitiva da criança, tornou-se nesse momento o âmago do processo ensino-aprendizagem, e grande parte dos procedimentos pedagógico-didáticos centraram-se nesse propósito.
A educação nos dias atuais está voltada para o trabalho tradicional. O objetivo principal tem sido basicamente o cumprimento de conteúdos programáticos, ou seja, a maior ou única preocupação do educador e equipe pedagógica é exclusivamente o desenvolvimento intelectual. Esse fato tem deixado de lado a relação de afetividade entre professor-aluno, pais-escola e escola-comunidade.
Se a criança é valorizada, amada, sente segurança, é compreendida, estimulada, respeitada, admirada, aceita, certamente ela desenvolverá uma boa auto-estima e poderá então amar o próximo, confiar, respeitar, aceitar seu semelhante, perdoar, admirar e estimular a criatividade do outro, ou seja, um homem só será capaz de amar se tiver sido amado.
Os desenvolvimentos emocionais e afetivos são absolutamente necessários para uma vida de qualidade em todos os âmbitos inclusive com base ao desenvolvimento cognitivo.
Segundo Maturana (2002, p 55),
“O conhecimento não leva ao controle. Se o conhecimento leva a alguma parte, é ao entendimento, à compreensão e isto leva a uma ação harmônica e ajustada com os outros e o meio.”
A escola atual geralmente trabalha com modelos racionais não enfocando a resolução de problemas como agressividade, rebeldia, entre outros, e não enfatizando o processo afetivo no contexto escolar.
Se o processo de aprendizagem se desenvolve de forma interativa, isto é, também no aspecto social, então a afetividade será determinante a aprendizagem.
O desenvolvimento afetivo é muito importante no processo de aprendizagem porque permite todos os tipos de relacionamento humano construindo a subjetividade e qualificando o ato de aprender.
Wallon (1972, apud Dantas,1992), concebe a intensa atividade cognitiva relacionada à construção do real; já a função afetiva está voltada para nos mesmos.
A afetividade faz se presente no cotidiano escolar, portanto em cada momento do processo educativo, deve-se dar atenção a ela, a fim de que se promova o desenvolvimento integral e harmonioso do educando. A afetividade é um elemento desenvolvido a partir das relações sociais.
O vínculo afetivo que o professor estabelece com a turma deve ter um caráter libertador que possibilite a expressão de questões pessoais e que conduza à autonomia do professor e do aluno, abrindo espaço para questionamentos, derrubando preconceitos e rótulos comuns na área educacional.
Serrão (1999), enfatiza ainda, que o importante na construção do vínculo afetivo é a função do professor, possibilitar a “afloração” dos sentimentos e as opiniões dos alunos, utilizando diversas técnicas e linguagem. Acredito que assim se possibilita a descoberta que é possível despertar e expressar sentimentos e opiniões variadas de forma prazerosa e criativa.
As emoções para Wallon tem papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades.
Conforme a idéias de Wallon, a escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa cadeira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa. O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que essa metodologia permite conhecer a criança em seu contexto. Portanto, o professor deve aprender a lidar com o estado emotivo da criança para melhor poder estimular seu crescimento individual.

Um comentário:

  1. Interessante publicação!! A afetividade, segundo Wallon a explica, mostra sua relevância em diversos aspectos da vida do ser humano. Uma das importantes discussões é a relação entre afetividade e aprendizagem. Este foi o tema de uma pesquisa por mim desenvolvida, junto ao Prof. Dr. Sérgio Leite, da Faculdade de Educação da UNICAMP. Deixo aqui o link para o artigo publicado: http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/2852/1954

    Caso interesse, mantenho também um blog sobre educação e tecnologias digitais: http://tecsedu.blogspot.com.br/

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