terça-feira

OBESIDADE ATINGE GRANDE NÚMERO DE CRIANÇAS

Além de afetar um em cada dez adultos no mundo, atualmente 3% das crianças no planeta estão obesas. No Brasil, estes índices correspondem a 48,1 % de adultos e 10% de crianças
Por Swellyn França

A obesidade vem aumentando a cada dia em países desenvolvidos e subdesenvolvidos e afeta milhões de pessoas em todo o mun­do, sejam elas adultas ou crianças. O problema já é considerado uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com um estudo di­vulgado recentemente por pesqui­sadores do Imperial College London e da Universidade de Harvard, 10% da população mundial adulta é obesa.
Dados da OMS revelam que cerca de 30 a 45 milhões de crianças no mundo são obesas, representando 2% a 3% da popu­lação de cinco a 17 anos.
Um levantamento divulgado no último dia 18 de abril pelo Ministério da Saúde mostra que quase metade (48,1°/o)  da  população  brasileira  adul­ta está acima do peso e que 15% dos brasileiros são obesos.
Houve um au­mento de aproximadamente 240% nos últimos 20 anos da obesidade no Brasil.  Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, em 30 anos, o índice de crianças obesas passou de 3% para 15% no país.
Opediatra especialista em obe­sidade infantil, Nutrólogo, ex-coordenador do Departamento de Obesi­dade Infantil da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade (Abeso), Nataniel Viuniski, alerta que uma em cada dez crianças do mundo está acima do peso - ainda não é obeso, mas está a um passo disso.
No Brasil, esse índice sobe para cerca de 30%. "Até meados da década de 1970, tí­nhamos mais crianças desnutridas, com baixo peso e baixa estatura do que crianças obesas em quase todos os países. principalmente os de ter­ceiro mundo.
Hoje, a realidade é esta. Esse fenômeno é conhecido como transição nutricional", explica.
A transição nutricional é um processo de modificações no pa­drão de nutrição e consumo das pessoas inerente às mudanças econômicas, sociais e demográfi­cas, bem como às alterações do perfil de saúde das populações.
O aumento da prevalência do sobrepeso e da obesidade repre­senta uma grande ameaça, uma vez que traz riscos de causar sérios danos à saúde, como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, aumento do colesterol, além de problemas respiratórios e ortopédicos. Por estes motivos, o tema tem ganhado mais evidência e causado tanta preocupação. Ainda mais quando se trata de crianças.
Fatores genéticos, ambientais e emocionais contribuem para a obesidade infantil.
Atualmente, nem as crianças estão livres de desenvolver sobrepeso e obesidade.
As causas são diversas e envolvem predisposição genética, fa­tores emocionais e ambientais.
"Cada ser humano tem cerca de 130 genes herdados dos pais e que estão rela­cionados ao ganho de peso. Sabemos que filhos de pais obesos têm 80% de chance de desenvolver. Se somente um dos pais for obeso essa chance cai para 50%. Filhos de pais com peso saudável têm menos de 10% de chance de tornarem-se obesos", explica Viuniski.
Embora os fatores genéticos sejam importantes, são as questões ambientais e emocionais que vão determinar se a obesidade vai ser um problema ou não. "As principais causas de obesidade nas crianças são o sedentarismo, o erro alimentar, o estresse do estilo de vida moderno. Além disso, questões como diminui­ção na quantidade e qualidade do sono, obesidade materna durante a gravidez e desnutrição na vida intra-uterina são cada vez mais estudadas e valorizadas", ressalta o Pediatra.
Pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, des­cobriram que crianças de dois anos de idade com pais que não lhes transmi­tem segurança emocional ficam, pelo menos, 30% mais propícios a desenvolver obesidade em torno dos quatro anos e meio de idade. Os resultados da pesquisa sugerem que a relação entre as áreas do cérebro que respondem pela emoção e o estresse com aquelas que controlam o apetite e o equilí­brio energético é mais determinante no desenvolvimento da obesidade infantil. "Desde bebê, meninos e me­ninas lidam com as emoções através do alimento. Por qualquer motivo, a mãe oferece comida ou chupeta para o filho. Logo, o estimulo oral passa a ser uma mensagem de conforto, que geralmente a criança carrega para a vida adulta", observa Vluniski.
Um outro estudo, realizado por pesquisadores da Universida­de de Temple, na Filadélfia (EUA), descobriu que o uso prolongado da mamadeira por crianças de até dois anos pode aumentar o risco de obe­sidade infantil. Publicado no Journal of Pediatrics, o resultado do traba­lho mostra que crianças acostuma­das a dormir só depois de tomar mamadeira, por volta dos dois anos, tinham 30°/o mais chance de serem obesas quando completassem cinco anos. Os autores acreditam que usar mamadeira após a infância pode contribuir para a obesidade, incen­tivando a criança a consumir muitas calorias. Para Viuniski, o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade e depois uma alimentação saudável, variada e colorida, ade­quada para a idade, com a perma­nência do leite materno e/ou uso de fórmula infantil adequada para o segundo semestre em copinho e, principalmente, a não utilização do açúcar no primeiro ano de vida são medidas universalmente con­sagradas, não só para a prevenção da obesidade como também para a saúde como um todo.
Prevenção é a melhor atitude
"Em meu consultório, quando um pai ou mãe me pergunta quando deve começar a se preocupar com o excesso de peso de seu filho minha resposta é categórica: Ontem!", res­salta o Nutrólogo Viuniski.
Para ele, a melhor medida para vencer a epidemia de obesidade em qualquer idade é a prevenção. "De­vemos começar a prevenir a obesi­dade infantil ainda durante o perío­do da gravidez, ou até mesmo antes, considerando que o bom peso e o bom estado nutricional da mãe são fatores determinantes para a saúde futura do seu filho.
Sempre que os pais estiverem preocupados com o peso dos seus filhos, devem procu­rar um Médico Nutrólogo, Pediatra ou Nutricionista para uma correta avaliação e posterior tratamento."
O pediatra acrescenta que a obesidade infantil é um proble­ma sério e com várias causas. Ele deve ser tratado sempre em equipe, composta por Médicos, Nutricionis­tas, professores de educação física, Psicólogos e até mesmo Cirurgiões-Dentistas. Essa equipe deve sempre atuar em harmonia incluindo no tra­tamento toda a família e, se possível, a escola.
"As crianças prestam muito mais atenção naquilo que fazemos do que naquilo que dizemos. Assim, minha dica é que os pais sirvam como um modelo de alimentação saudável, prática de atividade física regular e que toda a família adote o estilo de vida saudável. Ter sempre frutas e verduras à mão e as gulo­seimas longe dos olhos das crianças; cuidar para se ter um uma boa noite de sono, limitar o tempo diante das televisões e computadores são ati­tudes bastante proveitosas Sempre que houver dúvidas ou que o excesso de peso já estiver presente, um pro­fissional da saúde habilitado deve ser considerado", finaliza.


• 10 dicas para prevenir a obesidade infantil
- Até os seis meses de idade utilizar o leite materno exclusivo.
Isso reduz o risco de obesidade por vários anos.
- Ensine a criança a comer frutas, verduras e legumes.
-  Acostume a fazer todas as refeições à mesa e nas horas
certas, e mantenha essa rotina.
-  Evite estocar guloseimas e refrigerantes em casa e não
ofereça doces como prêmio por djsciplina.
- Não force a criança a comer durante as refeições, mas
também não dê guloseimas a ela. Espere a fome chegar para
alimentá-la corretamente.
- Na lancheira escolar, escolha mandar alimentos saudáveis:
fruta, iogurte, um sanduíche integral com um suco natural.
-  Invente programas que envolvam atividade física, de
preferência ao ar livre.
-  Não restrinja um tipo de alimento, mas sim a quantidade
dele. Por exemplo, em vez de dar uma barra de chocolate ao
pequeno, dê um pedaço, no máximo, duas vezes por semana.
- Evite o mau exemplo. A mudança de hábitos alimentares
deve servir para todos.
- Não espere a criança se tornar obesa, para procurar ajuda
especializada. A qualquer sinal de sobrepesõ, busque o Pediatra,
Nutrólogo ou Nutricionista para fazer uma investigação sobre
sua saúde.
Artigo publicado originalmente no APCD Jornal -Junho 2011

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